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Por esta altura, já todos perceberam que gosto dos filmes do Woody Allen. Já são quatro a navegar neste rio...
Nunca apreciei o actor principal (conhecia-o de uma série em que desempenhava um papel mais do que irritante), mas este papel foi uma verdadeira surpresa! Aliás, todo o filme é uma surpresa! Diria mesmo... uma surpresa refrescante! Quem diria, um filme em que a personagem principal é um sessentão hiponcondríaco e com mau feitio, pessimista e cínico até à medula, ex-cientista de física quântica, que sobreviveu a uma tentativa de suicídio. Dá para acreditar?
Gostei da forma como o Woody interage de forma cúmplice com os espectadores, e logo desde o início do filme, através da personagem. Este jogo sempre me agradou. E já não é a primeira vez nos seus filmes.
Neste filme tudo acaba por funcionar, até as situações mais improváveis, o que é uma mensagem insolitamente e atrevidamente refrescante, não acham?
Uma rapariga vinda do "sul profundo", que não sobreviveria três dias na selva nova-iorquina, é acolhida pelo nosso cínico. Contrariado, acaba por lhe mostrar os sítios históricos e turísticos da cidade. Sem se aperceber, a rapariga estava a absorver a sua perspectiva da vida e do mundo, com pormenores científicos e tudo. Contrariamente a todas as probabilidades, acabam casados e a viver uma certa harmonia caseira.
A mãe da rapariga é outra revelação tardia: de mulher abandonada pelo marido passa a artista num ápice, abre-se a novas experiências acabando num "ménage à trois" com o crítico de arte e o director da galeria.
Um processo semelhante de descoberta pessoal acabará por acontecer ao pai da rapariga: aceita finalmente a sua natureza e assume um novo relacionamento.
A mensagem do filme é tão simples que também funciona: o mundo é um lugar tão frio, impessoal e perigoso que devemos acarinhar o que quer que funcione nas nossas vidas.
A rapariga, depois de muita hesitação, acaba por se aproximar do jovem actor, o que deixa o nosso cínico herói subitamente murcho. E até mesmo a segunda tentativa de suicídio falhada o leva a aterrar num relacionamento que funciona: uma médium que passeava o cão e ia mesmo a passar debaixo da janela. Dá para acreditar?
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